Mentoria Cristã Younique Brasil
19 de abril de 2024Eu sou Carol Ojeda, nasci em Mogi Mirim, uma cidade do interior de SP, em 03 de abril de 1973. Sou a caçula de três filhos, a “raspa de tacho”, a temporã; quando nasci, meus irmãos já eram adolescentes.
Embora eu venha de uma família grande, por causa da diferença de idade, minha infância foi bem solitária, sem crianças para brincar e interagir. Entretanto, isso não me impediu de ser amada e até mimada por todos os adultos que me cercavam, especialmente meus pais, minha irmã e meu irmão.
Na escola também não tinha muitas amigas, não tinha o hábito de brincar na casa delas, nem recebê-las na minha casa. Mas me divertia na hora do recreio, brincando de pega-pega no vasto parquinho do Colégio Imaculada.
Desde cedo aprendi a brincar sozinha, exercitando o “faz de conta”. Minhas panelinhas faziam de mim a dona de um restaurante ou uma lanchonete. A lousa pequena pendurada numa parede e os “livros do professor – venda proibida” que minha tia me dava, faziam de mim uma ótima professora. Minha imaginação me levava longe.
Eu fazia balé clássico e embora não fosse a mais talentosa das alunas, gostava das manhãs de segundas e quartas-feiras, quando vestia a meia-calça rosa e o collant preto. Depois de um tempo, passei a fazer aulas de jazz também. Continuava não sendo das melhores, mas gostava de como me sentia quando ensaiava as coreografias. Apesar disso, nunca quis participar das apresentações finais. Era envergonhada demais para isso…
Por volta dos nove ou dez anos, fui aprender pintura em tecido, com uma professora habilidosa, amiga da minha avó. Lembro-me da discreta entrada da casa dela, uma porta branca com uma luminária azul em cima, que abria-se para uma sala da qual não lembro muito, mas que logo me levava a um ensolarado e amplo pomar, que acomodava um ateliê que mais parecia uma casa de bonecas em tamanho real. Ali dentro o cheiro de tinta prevalecia, é claro, e as janelas abriam-se para o que parecia ser uma pintura a óleo, mas nada mais era do que a vista que todas as alunas tinham daquele lindo quintal.
Eu ambicionava pintar camisetas – moda na época – mas a falta de conhecimento e prática das técnicas me levaram a começar pintando humildes panos de prato. Mesmo sem muito habilidade, eu me arriscava neles, mesmo nos fins de semana. Alguns estiveram na gaveta da minha cozinha até recentemente.
Algumas vezes, quando acabava a aula, enquanto eu esperava minha mãe vir me buscar, no seu moderno Fiat 147, eu ia até a papelaria que ficava umas cinco casas acima do ateliê, para comprar adesivos ilustrativos para tarefas escolares. Eram como figurinhas de álbuns, mas eram específicos para ilustrar os trabalhos de história e geografia. A pesquisa feita nas enciclopédias eram escritas a mão nas folhas de papel almaço e ilustradas com imagens impressas de Tiradentes, Dom Pedro, Padre Anchieta e muitos outros. E claro que na papelaria eu ficava “namorando” lápis de cor, estojos, e tudo o mais que sempre me chama atenção.
Em 1984 minha vida mudou! Mudamos para Campinas, uma cidade a 40 minutos de Mogi Mirim. Vários fatores levaram a essa mudança, mas meus laços com minha cidade natal continuaram estreitos, visto que grande parte da família estava lá e meu pai continuava trabalhando como médico anestesista nos hospitais da cidade.
No dia que completei 11 anos, comecei uma nova fase, numa nova cidade e nova escola. Uma construção nova, enorme e moderna, recém inaugurada, recebia uma escola já tradicional na cidade. Nela estudei por 5 anos e vivi as grandes mudanças, próprias da adolescência. Professores e funcionários me ajudaram nos primeiros passos da adaptação, e até encontrei um menino com quem tinha estudado no pré primário.
Lembro-me da primeira menina com quem conversei. A professora de Ciências, primeira aula daquela terça-feira, apresentou-me a Raquel e pediu que ela me ajudasse naquele primeiro dia, me mostrando a escola e apresentando aos outros alunos e professores.
Perdi o contato com a Raquel, mas ela certamente impactou minha vida com seu sorriso tímido, mas sincero, e com sua disposição em ajudar-me naquele momento tão único e especial.
As primeiras semanas foram desafiadoras, mas me adaptei, fiz amizades e aquela escola tornou-se um marco importantíssimo na minha vida. Hoje eu a sigo nas redes sociais e sinto um misto de saudade, orgulho e alegria vendo fotos de cada pedacinho daquele espaço gigantesco e lindo que foi minha segunda casa.
Quantas histórias e experiências vivi ali! Foi num estudo do meio à São Paulo que conheci um dos lugares mais lindos pra mim: o Museu do Ipiranga, hoje restaurado e chamado de Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Que dia incrível foi aquele, entrando naquela construção maravilhosa, cheio de significado. Claro que naquela época, eu não tinha o alcance completo do valor e importância daquele espaço, mas ainda assim senti-me impactada.
Falei tanto do museu em casa, que meu pai propôs um novo passeio, agora com ele e minha mãe. Foi num sábado meio nublado, cerca de duas semanas depois. Naquele dia, eles me levaram não só ao museu, mas para andar de metrô pela primeira vez. Lembro que meu pai comentou, cheio de orgulho e alegria: “no começo ela estava ressabiada, mas de repente, ela se soltou e deslanchou, como se já soubesse fazer aquilo há muito tempo”. Meu pai sempre foi meu incentivador!
Anos mais tarde, eu troquei aquela escola tradicional e formativa, por uma outra, focada na preparação. O último ano do “Colegial” – hoje Ensino Médio – foi absurdamente desafiador por causa da proposta diferente, altamente informativa, com sistema apostilado, prazos e simulados.
Cheguei a pensar que iria repetir o ano, mas depois da recuperação final, eu passei. Nunca antes eu tinha ficado de recuperação… E os desafios só começaram.
Um ano de cursinho, desistência num curso numa universidade particular e mais um ano de cursinho, me levaram a Unicamp, para o curso de Enfermagem. Mais uma vez, meu mundo ampliou-se.
Ali, tive uma formação técnica de altíssima qualidade, e também desenvolvi a capacidade de olhar para o outro de forma integral, compreendendo a necessidade de um cuidado amplo em todas as esferas.
A primeira aula foi Anatomia Humana, módulo 4 – 4 horas de aula por semana. Nunca antes me imaginei num laboratório de Anatomia, mas lá estava eu, perdida naquele campus enorme, assustada e insegura. Não sabia ao certo o que me esperava e ouvia relatos das “veteranas”, que aquela era a pior matéria, a mais difícil de passar e que se eu não passasse, meu curso atrasaria um ano inteiro! Zero pressão, não é?
Mas eu gostei daquela disciplina. Sim, era difícil, mas era incrível conhecer aquelas estruturas perfeitas e minuciosas. Era impossível não pensar em como Deus é maravilhoso e perfeito na sua Criação.
À época eu já tinha sido convertida ao Evangelho de Jesus, de forma consciente, há mais de um ano, então, ao estudar o corpo humano, era impossível não admirar a complexidade e a criatividade de Deus. Faria isso também estudando Fisiologia, Histologia e muitas outras disciplinas.
Naquela manhã de segunda-feira, 01 de março de 1993, iniciei aquela primeira aula aprendendo que o primeiro imperativo naquele laboratório, naquela disciplina, era reverência! Respeito por aqueles corpos que um dia tiveram vida, histórias, famílias, dores e alegrias, conquistas e derrotas, e mesmo depois da morte poderiam ajudar aqueles alunos e fazer parte de sua formação. Ali, logo no primeiro dia, aprendi a olhar além e respeitar tudo o que estava diante de mim.
Foram mais de quatro anos de aprendizado, crescimento e amadurecimento. Teve choro, teve medo, teve alegria, teve descobertas.
Ali entrei com vinte anos, namorando meu primeiro namorado, com quem me casei três anos depois, em meados de 1996.
Dali saí em janeiro de 1998, com o diploma numa mão e uma filha de um mês no outro braço.
Vários fatores me levaram a fazer uma escolha audaciosa para aquela época – mesmo hoje ainda seria… – Decidi retardar a procura pelo primeiro emprego como enfermeira e dedicar-me ao cuidado integral daquela pequena bebezinha linda e cheirosa.
Não foi fácil levar avante aquela decisão, mas eu sabia que era a melhor escolha naquele momento.
Muitas e muitas vezes eu ouvi a pergunta “você não trabalha?”. Ofensiva e ignorante pergunta que eu ouvia tanto de pessoas que tinham feito a mesma opção que eu – “ficar em casa com os filhos”- quanto de mulheres da minha geração e até da mesma turma de faculdade.
Uma perspectiva encolhida do que é trabalho, do que é família, do que é prioridade e principalmente do que é ser mulher…
Durante muito tempo tinha vergonha quando respondia a perguntas similares: “o que você faz?”, “Você trabalha com o quê?” . Durante muito tempo pensei que não havia valor em mim porque eu não fazia nada daquilo que era considerado relevante pelas pessoas.
Quatro anos e meio depois da primeira filha, tivemos nosso segundo bebê, dessa vez um menino. Nasceu em plena Copa do Mundo de Futebol – Coreia do Sul e Japão. Com menos de dez dias de vida, aquele menininho via o Brasil ser Pentacampeão do Mundo. Talvez por isso seu gosto pelo futebol.
Nesse meio tempo, com filhos pequenos, exerci muita enfermagem pediátrica, bem como enfermagem geriátrica, com meus pais. E o fato de não exercer minha profissão formalmente não me impediu de aplicar o que aprendi sobre cuidado integral, olhando o ser humano em todas suas perspectivas.
Eu fazia isso dentro da igreja local, discipulando, aconselhando, ensinando, caminhando junto com várias mulheres. E quanto mais eu fazia isso, mais me alegrava, mais estudava e lia. Servir na igreja local é um privilégio, mas é também uma responsabilidade dada pelo próprio Deus, de modo que dons e talentos sejam colocados à disposição do seu Reino, para honra e glória do seu nome. Faz parte da formação dos discípulos de Jesus.
Enquanto leio essa rápida e resumida apresentação, eu percebo o quanto Deus me talhou ao longo dos anos, para formar-me, moldando minha identidade a sua imagem e semelhança, capacitando-me a cuidar e ensinar mulheres. Essas poucas palavras descrevem um pouco quem sou e como cheguei até aqui.
E eu quero te contar mais! Então, vem comigo! Vem ler o que eu escrevo, vem me conhecer um pouco mais e deixe-me conhecê-la também!
